quinta-feira, 30 de abril de 2009

SARAH BERNHARDT












Nascida Marie Henriette Bernardt nasceu em Paris, no dia 22 de outubro de 1844 e faleceu em Paris, no dia 26 de março de 1923, Sarah Bernhardt foi uma atriz e cortesã francesa, já chamada por alguns durante "a mais famosa atriz da história do mundo". Bernhardt fez sua reputação nos palcos da Europa na década de 1870, e logo passou a ser exigida pelos principais palcos do continente e dos Estados Unidos. Conquistou uma fama de atriz dramática, em papéis sérios, ganhando o epíteto de "A Divina Sarah".
Seu papel mais marcante foi o da peça A Dama das Camélias de Alexandre Dumas. Visitou o Brasil quatro vezes, as duas primeiras ainda durante o reinado de D. Pedro II. Na última visita, durante uma encenação, sofreu um acidente que lhe gerou sérios problemas em sua perna e que culminou, anos depois, em sua morte.
Sarah Bernhardt foi representada em dois filmes brasileiros, O Xangô de Baker Street e Amélia.
Filha de Julie Bernardt com um indivíduo de identidade desconhecida, de origem holandesa. Seu avô, Moritz Bernardt, foi um comerciante judeu em Amsterdã, e provavelmente sua mãe também nascera lá.
Marie Bernardt passou os primeiros 4 anos de sua vida na Bretanha, aos cuidados de uma babá. A primeira língua que conheceu foi o bretão e por este motivo adotou a forma bretã de seu sobrenome, na carreira teatral: Bernhardt. Nesta época sofreu um acidente que muitos anos depois lhe acarretaria graves problemas de saúde: caiu de uma janela, quebrando a patela direita. Ainda que tenha se curado, a patela continuou frágil para sempre, e em 1914, por causa de novo acidente, e com as fortes dores que sentia, teve a perna direita amputada. Após este acidente, sua mãe a levou consigo a Paris, onde permaneceu dois anos. Perto de completar 7 anos ingressou na Instituição Fressard - um internato para garotas, perto de Auteuil, onde permaneceu dois anos. Em 1853 ingressou no colégio de freiras Grandchamp, região de Versalhes. Neste colégio participou de sua primeira peça teatral: Tobias recobra a visão, escrita por uma das monjas.
Depois de abandonar Grandchamp, aos 15 anos, sua mãe tratou de introduzi-la no ambiente mundano, para que ganhasse a vida como uma cortesã de luxo, apesar da jovem Sarah, influenciada por sua educação religiosa, negar-se repetidamente a princípio. Julie Bernard tinha um salão em Paris, onde recebia os seus clientes; entre estes estava o meio-irmão de Napoleão III, o Duque de Morny. Morny aconselhou-a a inscrever-se no Conservatoire de Musique et Déclamation. Graças aos contatos do duque, Sarah ali ingressou sem dificuldades em 1859, onde adquiriu seu treinamento formal.
Muitas das incertezas em sua biografia se devem à sua tendência de exagerar e distorcer os fatos. Alexandre Dumas, filho, autor de La dame aux camélias, que ela teria encenado quase três mil vezes ao longo de sua vida, a descreveu como uma notória mentirosa.
Já em 1861 ganhou o segundo prêmio em tragédia, e uma menção honrosa em comédia. Findos seus estudos no Conservatório, entrou, mais uma vez graças aos influentes contatos de Morny, para a Comédie-Française, estreando em 11 de agosto de 1862 com a obra Iphigénie, de Jean Racine.
Foi contratada pelo Teatro Gymnase, onde fez sete pequenos papéis em obras diversas. Atuou ali pela última vez em 7 de abril de 1864, na obra Un mari qui lance sa femme.
Três anos mais tarde, em 1867, debutou no Teatro do Odéon com As sabichonas (Les femmes savantes) de Molière. Aqui iniciou sua verdadeira carreira profissional. Participou de muitas montagens teatrais, alternando a vida teatral com a vida galante. A fama chegou repentinamente em 1869 com Le Passant de François Coppée, uma obra em verso de um só ato. Sarah interpretou pela primeira vez nesta obra um papel masculino, o do trovador Zanetto. Repetiria mais vezes fazendo papéis masculinos em várias outras obras: Lorenzaccio, Hamlet e L'Aiglon.
Em 1870, durante a Guerra Franco-Prussiana, habilitou o Odeón como hospital para convalescentes, onde cuidou com dedicação dos feridos de guerra. Em 1871 o improvisado hospital teve que ser fechado por problemas de salubridade. Após a derrota francesa e a queda de Napoleão III, muitos intelectuais exilados por serem contra o imperador, puderam regressar a França, entre eles Victor Hugo. O regresso de Hugo foi transcendental na vida de Bernhardt, uma vez que o escritor a elegeu para protagonizar a reestréia de sua obra Ruy Blas. Bernhardt protagonizou outra obra de Hugo, Hernani. Ruy Blas a encheu de elogios, e regressou à Comédie-Française como uma grande estrela e ali desenvolveu seu repertório e seus múltiplos registros como atriz.
Bernhardt se especializou em representar as obras em verso de Jean Racine, tais como Ifigênia, Fedra ou Racine. Destacou-se especialmente, entre muitas outras, n'A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas, filho, Théodora, de Sardou, L´Aiglon, de Edmond Rostand, Izéïl, de Silvestre e Morand, Macbeth, de Shakespeare, Jeanne D´Arc, de Jules Barbier.
Em 1879, saiu pela primeira vez da França, e conheceu a Inglaterra, onde esteve 6 semanas fazendo duas apresentações diárias, obtendo grande êxito. Ao chegar lá foi recebida espetacularmente, e acabou por conhecer um jovem escritor chamado Oscar Wilde que, anos mais tarde, em 1893, lhe escreveria o papel principal da peça Salomé. Nesse mesmo ano, Sarah ascendeu a "Sócio Pleno" da Comédie-Française, hierarquia mais alta desta instituição.
Após seu espetacular sucesso na Inglaterra decidiu fazer sua primeira viagem à América. Partiu para os Estados Unidos em 15 de outubro de 1880. O êxito foi total. Bernhardt faria repetidas viagens pelos Estados Unidos (suas famosas "Viagens de despedida") e também percorreu toda América do Sul, chegando a atuar no Brasil, Argentina, Chile. Viajava de trem e de barco e chegou a cruzar o Cabo Horn. Nos Estados Unidos sua fama era tal que disponibilizaram um trem com sete vagões de luxo chamado Sarah Bernhardt Special, para uso exclusivo da atriz. Suas voltas chegaram também a Austrália e visitou o Havaí e as ilhas Sandwich. Atuou no Egito e na Turquia. Também percorreu a Europa, atuando em Moscou, Berlin, Bucareste, Roma, Atenas. Em sua turnê, atuou não somente em grandes teatros mas também em teatros de ínfima categoria. Nunca chegou a pisar na Ásia.
Foi, possivelmente, a atriz mais famosa do século XIX. Treinou muitas jovens na arte da atuação, incluindo a também atriz e cortesã Liane de Pougy.
Embora antes de tudo uma atriz de palco, Sarah Bernhardt gravou diversos cilindros e discos de diálogos célebres de várias produções. Um dos primeiros foi a Fedra, de Jean Racine, na casa de Thomas Edison, durante uma visita a Nova Iorque na década de 1880. Dotada de muitos talentos, ela se envolveu com as artes visuais, pintando e esculpindo, chegando a expor suas obras no Salão de Paris várias vezes, entre os anos de 1874 e 1896. Também posou para Antonio de la Gandara.
Em seu tempo, Sarah Bernhardt teve uma grande influência na grand opera, uma influência que continua até hoje. Tosca e Salome, por exemplo, contêm duas das heroínas mais sensacionais, ambas baseadas em peças escritas especialmente para ela.
Escreveu também três livros: sua autobiografia, intitulada Ma double vie, Petite Idole e L´art du Théâtre: la voix, le geste, la pronontiation.
Em 1914 foi condecorada, pelo governo francês, com a Légion d'honneur.
Sua vida familiar não foi simples. Teve uma relação tensa e distante com sua mãe, Julie. Sua progenitora nunca foi uma mãe carinhosa e interessada e isso fez com que Sarah sempre buscasse sua aprovação e seu carinho. Julie Bernard sentia predileção tão exclusiva por sua filha Jeanne que descuidou totalmente a educação de sua filha menor, Régine. Sarah Bernhardt sentia predileção por sua irmã pequena Régine e quando se tornou independente levou-a para morar consigo para distanciá-la da mãe e das intenções desta em convertê-la também em cortesã. No entanto, devido ao abandono afetivo que sofreu e o ambiente com sua mãe, fez com que Régine se convertesse em prostituta aos 13 anos. Faleceu aos 18, em 1873 de tuberculose. Sua outra irmã, Jeanne também foi cortesã durante uma época, sempre que tinha necessidade de dinheiro. Para apartá-la da má vida, Bernhardt levou-a consigo como sua companhia e acompanhou-a em várias de suas viagens americanas e européias. Era uma atriz medíocre, mas fazia pequenos papéis e vivia uma vida de luxo junto de sua irmã. Se sabe que sofreu crise de neurose por seu vício em morfina e que teve que ser internada no hospital La Pitié-Salpetrière em Paris sob cuidados do doutor Charcot.
Em 1864 Sarah Bernhardt teve um caso romântico passageiro com um aristocrata belga, Charles-Joseph Eugène Henri, Príncipe de Ligne, com quem ela teve seu único filho, Maurice Bernhardt. Envolveu-se com diversos nomes do cenário artístico da época, como Gustave Doré, Georges Clarin, os atores Jean Mounet-Sully e Lou Tellegen, assim como o célebre escritor Victor Hugo. Alphonse Mucha baseou nela diversas de suas obras emblemáticas do art nouveau. Sua amizade com Louise Abbema, pintora impressionista catorze anos mais nova que ela, era tão íntima e apaixonada que existiam rumores de que as duas fossem amantes.
Em 1882 casou-se, em Londres, com o ex-oficial militar e ator grego Aristides Damala (conhecido na França pelo nome artístico de Jacques Damala). O casamento, embora tenha durado oficialmente até a morte de Damala, com 34 anos, em 1889, entrou rapidamente em colapso graças às infidelidades do marido e ao vício em morfina alimentado por ele. Nos últimos anos de seu casamento, Sarah Bernhardt teria se envolvido com o Príncipe de Gales, que posteriormente veio a ser o rei Eduardo VII da Inglaterra.
Não era uma pessoa religiosa, e teria dito, certa vez: "Eu, rezar? Nunca! Sou uma atéia."
Sarah Bernhardt foi uma das atrizes pioneiras do cinema, debutando em 1900 no papel de Hamlet, no filme Le Duel d'Hamlet. Veio a estrelar posteriormente oito outros filmes, além de dois filmes biográficos, um dos quais Sarah Bernhardt à Belle-Isle (1912), um filme sobre sua vida cotidiana em sua casa.
Em 1906 rodou La Dame aux Camélies, com Lou Tellegem, e Elisabeth, rainha de Inglaterra, dirigida por Louis Mercanton. Em 1913 filmou Jeanne Doré, dirigida por Tristam Bernard. Esta película se considera a melhor rodada por Bernhardt e onde se pode observar o melhor da sua arte de atuar. O filme está preservado na Cinémathèque de Paris.
Sarah Bernhardt foi também a primeira atriz-empresária do mundo do espectáculo, graças à sua relação muito tensa com o diretor da Comédie-Française, Perrin. Bernhardt rompeu seu contrato e se demitiu da qualidade de "Sócio Pleno" em 18 de Março de 1880. A Comédie pleiteou contra ela, ganhando na justiça: Sarah Bernhardt teve que renunciar à sua pensão de 43.000 francos que teria tido, caso tivesse permanecido por um mínimo de 20 anos a companhia, e além disso foi condenada a pagar 100.000 francos de multa - multa essa que a atriz nunca chegou a pagar.
Depois de sua esplendorosa primeira viagem americana, que lhe havia feito ganhar uma grande fortuna, Bernhardt arrendou o Teatro Porte Saint-Martin, em 1883. Neste teatro produziu e atuou em obras como Frou-Frou e La Dame aux Camélies, entre outras; durante suas viagens, o teatro permanecia aberto e se estreavam obras continuamente, com distinto sucesso comercial. Bernhardt não duvidava em apoiar o teatro de vanguarda, assim e apesar do repertório clássico, no Porte Saint-Martin estrearam obras de novos autores que rompiam com o teatro tradicional. Depois de alguns anos, Bernhardt alugou o Teatro da Renascença, onde representou muitas obras de sucesso. Em 1899 alugou por 25 anos o enorme Theâtre des Nations, único teatro onde atuaria na França durante os últimos 24 anos de sua vida.
O século XX começou para Sarah Bernhardt com um grande sucesso, L´Aiglon, de Edmond Rostand. A obra estreou em 15 de março de 1900 e obteve um sucesso triunfal. Sarah fez 250 representações da peça e, depois disso, fez outra viagem aos Estados Unidos para representá-la. Em Nova Iorque representou a obra na Metropolitan Opera House e também conseguiu um enorme sucesso.
Em 1905, ao encenar a peça La Tosca, de Victorien Sardou, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Sarah Bernhardt machucou seu joelho direito, durante a cena final em que deveria pular de um alto muro. Sua perna não se recuperou do ferimento. Em 1915 a gangrena havia tomado conta do membro, que teve de ser amputado inteiramente. Confinada por meses a uma cadeira de rodas, Bernhardt teria, supostamente, recusado uma oferta de 10.000 dólares de um empresário de espetáculos circenses que desejava expor sua perna amputada como uma curiosidade médica (embora P. T. Barnum seja citado normalmente como tendo sido o autor da oferta, ele morrera em 1891). Assim mesmo, ela continuou sua carreira, e, ao contrário da crença popular, sem o uso de uma prótese de madeira (ela teria experimentado uma, porém não gostara). Realizou uma turnê de sucesso nos Estados Unidos em 1915, e, ao retornar à França, já iniciada a Primeira Guerra Mundial, a atriz decidiu fazer uma viagem às trincheiras francesas fazendo atuações para animar as tropas. Encenou doravante apenas produções suas, quase que ininterruptamente, até a sua morte. Entre seus últimos sucessos estão Daniel (1920), La Gloire (1921) e Régine Armand (1922). Sua condição física a forçou a ficar praticamente imóvel sobre o palco, porém o charme de sua voz, que teria se alterado muito pouco com o passar dos anos, garantia os seus triunfos. Em 1922, vendeu sua mansão no campo de Belle Isle-en-Mer, onde havia rodado anos atrás Sarah Bernhardt à Belle-Isle, uma película-documental sobre sua vida. Rodava em 1923 um filme, La Voyante, em sua casa, no Boulevard Péreire, devido à sua saúde muito frágil, quando depois de rodar uma cena, desmaiou.
Em 26 de março de 1923, Sarah Bernhardt morreu, de uremia, sob os cuidados de seu filho Maurice. Foi enterrada, perante uma multidão de admiradores, no Cemitério do Père Lachaise, em Paris.
No fim do século XX, recebeu uma estrela na Calçada da Fama, em Hollywood.

Nenhum comentário:

Postar um comentário